Cidade da Região Serrana conta com mais de 10 mil costureiras e outras 20 mil pessoas que trabalham direta ou indiretamente no setor, segundo o Sindicado da Indústria da Confecção. Muitas perderam casas, equipamentos e empregos.
A maior tragédia da história de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, também atingiu em cheio as costureiras que trabalham no município. Parte importante da economia local, muitas trabalhadoras estão sem fonte de renda depois das chuvas do último dia 15 de fevereiro.
A cidade sempre foi muito famosa pela força de seu polo de moda. O município conta com cerca de 10 mil costureiras e 20 mil pessoas que trabalham direta ou indiretamente no setor, segundo o Sindicado da Indústria da Confecção.
Além de deixar mais de 220 mortos, a tempestade levou casas, equipamentos e empregos de muitas costureiras da região.
"Acredito que em torno de 500 costureiras perderam seu maquinário, sua vida, seu ganha pão em Petrópolis nessa enchente", comentou Jorge Luiz, presidente Sindicato das Indústrias de Confecção de Petrópolis.
A costureira Rita de Cássia Oliveira perdeu quase tudo dentro de casa durante as chuvas do dia 15. Ela, que mora com a mãe no bairro Cascatinha, tinha uma pequena confecção, que foi toda destruída pela chuva.
"Eu perdi tudo da minha casa. Eu moro e trabalho aqui. Perdi fogão, geladeira, todos os móveis, todas as minhas roupas. Não consegui mais entrar em casa, fui sentar ali na chuva e chorar, chorar, chorar porque tinha perdido minhas maquinas", contou Rita.
A enxurrada deixou marcas na casa de Rita. A água e a lama cobriram oito máquinas de costura. Um dos equipamentos tinha apenas de oito meses e agora está cheio de lama.
Nos últimos 10 dias, a costureira teve muito trabalho para tirar toda a lama de dentro de casa. Somente com a ajuda de doações, ela pode receber novas roupas, colchões e cobertores.
"Cada máquinas dessas sustenta uma família. Tem várias famílias atrás que precisam de uma costureira que também paga suas contas, tem sua família para criar em cima da sua máquina de costura", completou Rita.
Tragédias repetidas
Assim como o município, que precisou se reconstruir depois das fortes chuvas de 1988, 2011 e 2013, algumas famílias também podem contar histórias de superação.
Carmem Lúcia da Silva é uma dessas costureiras da cidade que venceram muitos desafios em sua trajetória. Atualmente ela não pode trabalhar porque sua casa teve a estrutura comprometida pela chuva.
"Não tem como entrar. A gente tá passando por cima de lama, o cheiro tá horrível. A gente ficou sem luz", comentou Carmem.
A casa dela ainda guarda jornais que mostram a tragédia de 2013, quando ela também perdeu a casa e recebeu a promessa de uma indenização que nunca chegou.
"Só quero receber minha indenização que é meu por direito. Tenho direito de morar num lugar seguro e ter casa própria como eu tinha. Eu quero poder olhar para o meu filho e ver que meu filho tem um lugar seguro. Poder deitar e não ter medo, será que eu vou acordar viva?", questionou.
A costureira Margareth do Amaral também tem sua história de reconstrução para relembrar. E assim como muitos no município, também espera que as autoridades possam dar dignidade aos moradores.
"Eu tinha uma confecção, meu marido teve câncer, eu tive que vender as máquinas, comecei a trabalhar de noite como cuidadora e comecei a comprar outras máquinas. Eu deixei as máquinas na casa de uma amiga. Só que a casa dela caiu e perdeu tudo na chuva", recordou Margareth.
Lojas fechadas na Rua Teresa
O maior ponto comercial da indústria da moda em Petrópolis, a Rua Teresa foi devastada pelas chuvas. No dia seguinte a tempestade, a rua parecia um cenário de guerra.
Rua Teresa ainda estava obstruída 2 dias depois do temporal — Foto: Marcos Serra Lima/g1
Treze dias depois da tragédia, máquinas e funcionários já limparam tudo na rua, mas a maioria das lojas permanece fechada.
"Eu tô sem chão porque isso aqui é meu ganha pão e não posso ficar parada. Já tô nervosa, pessoas que trabalham comigo precisam trabalhar, eu também, mas não tenho o que fazer. Eu dependo da luz voltar e não sei realmente o que fazer", disse a costureira Silvânia Araújo.
As costureiras dizem que, sem ajuda, vai ser difícil retomar a vida. Contudo, Rita não perde a esperança por dias melhores.
"Tenho uma energia muito forte e não tenho medo de recomeçar. Eu gostaria de passar essa mesma energia boa, mesma vontade de continuar, para todo mundo. Que seja costureira ou não, que todos tenham essa disposição, que tenha essa força para gente continuar e botar nossa cidade de pé de novo", disse Rita de Cássia.
Por Carlos de Lannoy, RJ2